sexta-feira, 4 de novembro de 2016

A guerra na Síria e as incompreensões de Samira


José Gil

A jovem Samira está sentada à minha frente, na casa de amigos em Curitiba. É bonita, tem pouco mais de 30 anos, e decidiu contar algumas de suas incompreensões sobre a guerra na Síria, com a condição de não ser fotografada nem ter o nome completo publicado.

Concordei e passamos a falar da guerra. Ela me corrige: - Não é guerra da Síria, é guerra à Síria. São forças estrangeiras que trouxeram a guerra à Síria.
Concordei com ela de imediato e passei às perguntas:

Por quê vocês vieram a Curitiba?
Samira – Foi por acaso. A vida em Alepo estava se tornando insuportável, mesmo antes da entrada dos terroristas do Estado Islâmico. Primeiro foi a Al Qaeda, depois o Estado Islâmico, apoiados pela Turquia e Estados Unidos. Nós reunimos a família, vendemos nossa casa, carros, comércio, e fomos a Damasco visitar embaixadas para buscar refúgio. Fomos primeiro na embaixada dos Estados Unidos da América. Eles disseram que aceitariam apenas meus irmãos formados em medicina, mas que não haveria lugar para as esposas e meus pais. Fomos a embaixada da França, da Inglaterra, Itália, e a resposta era sempre a mesma. E foi na embaixada italiana que a funcionária me perguntou: - Vocês já tentaram o Brasil? Respondi que não. Ela então me aconselhou a visitar a embaixada brasileira, onde haveria facilidades. E quase que por acaso, fomos até a embaixada brasileira onde fomos muito bem atendidos e informaram que concederiam refúgio à família inteira, por isso decidimos pelo Brasil. No momento de escolher a cidade, apresentaram diversas cidades brasileiras mas não conhecíamos nenhuma. A funcionária então sugeriu Curitiba, ela disse que era uma cidade moderna, evoluída, com ótima qualidade de vida. Foi assim que escolhemos Curitiba e aqui estamos, felizmente.

Como foi o início da guerra?
Samira – Foi tudo muito estranho. Parecia algo planejado e executado como um relógio, embora atrasado. No final de 2011 eu estava com a minha família tomando chá quando a televisão noticiou que opositores ao presidente Bashar Al Assad haviam provocado uma grande explosão no mercado de Hamã. Fiquei preocupada e telefonei para minha amiga Saluah que vivia em Hamã. Ela me atendeu tranquila. Perguntei sobre a explosão no mercado e ela disse que não havia nenhuma explosão no mercado, que a notícia era mentira. Desliguei o telefone e continuamos com o chá. Passaram-se três horas até que as cenas da explosão aparecessem na televisão. Eles noticiaram a explosão antes que acontecesse, e ela realmente aconteceu três horas depois, causando dezenas de vítimas e centenas de feridos.
Esse fato se repetiu nos dias que se seguiram. Sempre noticiavam uma explosão, um ataque, antes que acontecesse. Era como se tudo fosse planejado no exterior, e talvez por problema de fuso horário, as ações terroristas aconteciam sempre depois de noticiadas. Alguém dos terroristas informava a imprensa, que publicava, e depois as ações aconteciam, mostrando que havia uma organização por trás dessa chamada oposição, que na verdade não passa de grupos terroristas financiados por países estrangeiros.

Você pretende voltar à Síria algum dia?
Samira – Sim, com certeza. A cada dia que passa, com a vitória do povo sírio na luta contra os terroristas e mercenários estrangeiros, aumenta nossa esperança de voltar à nossa terra natal. Sabemos que o povo sírio vencerá esta guerra com a liderança do presidente Bashar Al Assad, e vamos participar da reconstrução do país. É uma questão de tempo, embora nossos inimigos sejam muito poderosos: os terroristas são apoiados pela maior potência militar do planeta, os Estados Unidos da América e seus aliados e cúmplices, mas temos esperança e fé em Deus que no final a Síria será vitoriosa.