sábado, 19 de agosto de 2017
“Inimigo dos quilombos e dos pobres”: quem é o juiz que proibiu homenagem a Lula na Bahia. Por Kiko Nogueira
Mais uma intervenção abstrusa do Judiciário.
O juiz Evandro Reimão dos Reis suspendeu a entrega a Lula do título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Recôncavo Baiano — criada pelo ex-presidente.
“Parece existir ilegalidade do objeto ante a perceptível violação da norma administrativa; e, ademais, existir desvio de finalidade na oferta do título pois adrede sua outorga com vistas a propiciar manifestação ruidosa do réu Luis Inácio Lula da Silva no local da entrega da homenagem ao coincidi-la com o evento onde ele está envolvido de visibilidade político-partidária denominado ‘Brasil em Movimento’”, disse ele na decisão.
Onde isso impediria qualquer coisa?
Lembrando que se trata do mesmo estado cuja capital deu a João Doria o prêmio de cidadão soteropolitano. Mas Doria não estava em campanha e fez maravilhas pela cidade, claro.
É apenas mais um ato de autoritarismo num país repleto de aspirantes a Sergio Moro. Wannabes.
Fernando Brito, no Tijolaço, escreveu que ele atendeu os servidores que pediram que não pudessem ser divulgadas suas remunerações.
“No Supremo, onde duas vezes foi para contestar promoções de outros juízes a desembargador por merecimento que não ele próprio, tomou duas derrotas acachapantes em decisões dos Ministros Ricardo Levandowski e Teori Zavascki. Também foi ao Conselho Nacional de Justiça para o mesmo fim e…perdeu“, diz Brito.
Reimão já foi classificado por um deputado federal como alguém “que não gosta de pobre. Ele é o mesmo que ordenou a derrubada das barracas de praia em Salvador”, afirmou Luiz Alberto (PT-BA).
Em 2012, Reimão determinou a desocupação do Quilombo Rio dos Macacos, vizinho à Base Naval de Aratu, no município baiano de Simões Filho, numa briga em que a Marinha levou a melhor.
Famílias foram desalojadas, mas até aí normal, certo?
Abaixo, matéria da Carta Capital sobre o caso:
A base naval de Aratu, na zona metropolitana de Salvador, é um recanto para algumas personalidades da República. Em dezembro de 2011, Dilma Rousseff escolheu como destino a Praia de Inema para tirar alguns dias de folga. A base é também um dos locais preferidos de Luiz Inácio Lula da Silva: durante dois anos consecutivos o ex-presidente passou o reveillon no local, cujo acesso é restrito à Marinha do Brasil.
Descrevendo dessa maneira pode até parecer que Aratu é um oásis. Mas os oficiais que garantem a segurança dos chefes da República durante suas férias são os mesmos que há cerca de 40 anos tiram o sossego dos moradores da região do Rio dos Macacos, terreno localizado dentro da base e já reconhecido como quilombola pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
São aproximadamente 500 pessoas. Há relatos de gerações de famílias que estão na área há mais de 100 anos e hoje estão assediados pela opressão dos oficiais. “A gente vive sendo ameaçado de morte. É uma verdadeira guerra contra nossas crianças e idosos”, conta Rosemeire Santos, 33 anos, uma das líderes da comunidade.
Ela nasceu e cresceu no quilombo e explica que a Marinha reveza momentos de extrema violência com outros de relativa paz. “Hoje em dia minha filha pequena tem medo dos camburões. Minha avó está doente, em cima de uma cama, e nem isso eles respeitam. Colocam armas nos nossos rostos. Chegam à nossa casa no meio da noite, não podemos nem dormir”, lamenta.
