segunda-feira, 3 de abril de 2017
Sobre a cobertura midiática da situação em Mossul
Durante a tomada de Aleppo em dezembro passado todos os canais de TV ocidentais informavam sobre a terrível situação humanitária na parte oriental da cidade ocupada pelos terroristas. Estavam no centro de atenção as assim chamadas «últimas mensagens» transmitidas da cidade cercada pelos «jornalistas» e «moradores» de Aleppo. Muitos deles, de fato, acabaram sendo ativistas anti-Assad e aquelas mensagens não foram últimas para eles. Isso não impediu todos os canais de TV ocidentais de dedicarem ao assunto bastante tempo de transmissão, completamente ignorando o fato de que a zona oriental de Aleppo estava sob controle dos combatentes da organização terrorista conhecida como Al-Nusra, que faz parte da Al-Qaeda na Síria.
Nas matérias da mídia ocidental sobre a tomada de Mossul a questão de sofrimento da população local está sendo completamente ignorada.
Nas reportagens do canal RT os refugiados de Mossul que permanecem no território do Curdistão iraquiano deram a seguinte descrição da situação na cidade: «eu vi com meus próprios olhos 3 prédios serem destruídos durante o bombardeio. Os terroristas chegaram para lá, esperaram serem notados e fotografados, e depois fugiram. Como o resultado, 17 civis foram mortos inclusive uma mulher grávida. A explosão arrancou a roupa dela e nós cobrimos o corpo com um lençol», disse um morador local. «Eu vi o ataque aéreo desmoronar uma casa perto da nossa. Os prédios vizinhos também foram bombardeados. Dentro tinha as pessoas civis», lembrou com horror uma das mulheres. «Muitos foram mortos e feridos por causa dos ataques aéreos. Lá não tinha nem médico, nem hospital», notou um homem que tinha fugido da cidade.
«De 20 a 30 pessoas se apinhavam em um banheiro pequeno. Lá nós esperávamos com horror uma bomba cair do bombardeio», disse outro refugiado.
RT também sondou a opinião de várias organizações de defesa de direitos humanos. Em uma de tais entrevistas, o vice-presidente da organização Human Rights Whatch no Médio Oriente Lama Fatich disse que o exército iraquiano destruía casas dos civis e também forçaram cerca de 125 famílias a deixar suas moradias sob o pretexto que os parentes deles cooperavam com o Estado Islâmico.
Em 5 de março de 2017 a ONU publicou um relatório segundo o qual desde o começo da ofensiva em outubro de 2016, 206,502 mil refugiados deixaram a cidade, fugindo da guerra. O fluxo chegava a atingir 4000 mil pessoas por dia. O estado dos refugiados foi avaliado como desastroso, enquanto o financiamento da assistência como extremamente insuficiente.
No dia da publicação do relatório todos os canais ocidentais lançaram matérias sobre Mossul. Mas em geral nelas se tratava de êxitos na operação militar e do sofrimento dos civis provocado pelas atividades dos terroristas. A catástrofe humanitária, causada pela operaçao militar, não tinha uma cobertura midiática adequada. Entretanto, nos dias da tomada de Aleppo, não se falava praticamente nada sobre o sucesso da operação militar sobre o fato de que a cidade estava cheia de terroristas.
Um estudo mostra os resultados da análise comparativa, realizada pelo RT, das reportagens de TV dos 3 principais canais ocidentais: o noticiário de 13 de dezembro de 2016 sobre a tomada de Aleppo e o noticiário de 5 de março de 2017, lançado no dia da publicação do relatório da ONU sobre a situação humanitária em Mossul. Nós calculamos o tempo de transmissão sobre: 1) o andamento da operação militar 2) o sofrimento da população civil por causa da operação militar 3) o sofrimento da população por causa das atividades de terroristas.
Como o resultado, tornou-se evidente que os meios de comunicação ocidentais apresentam para o seu público uma situação distorcida: no caso de Mossul as consequências humanitárias da operação militar na prática não foram mostradas, enquanto na cobertura da situação em Aleppo eles tiveram o maior foco.