terça-feira, 24 de janeiro de 2017
20 anos sem Edmundo Moniz
Por Sergio Caldieri
O escritor e jornalista Edmundo Moniz faleceu aos 86 anos em 22 de janeiro de 1997, no Rio de Janeiro. Nasceu em Salvador, em 2 de novembro de 1911. Filho do ex-governador e senador Antonio Moniz, um dos primeiros professores a falar em Karl Marx numa sala de aula em 1910. Sua família veio de Portugal com Tomé de Souza, em 1530, através de Egas Moniz e dominaram durante vários anos os poderes politicos das classes dominantes da Bahia.
Mas Edmundo sempre foi um garoto estudioso e passou a vida toda lendo e pesquisando. No início dos anos 30, aos 19 anos, foi estudar Direito no Rio de Janeiro, e já entrosou no movimento estudantil que organizavam o 1º Congresso da Juventude Operária-Estudantil, cuja comissão era formada por Jorge Amado, Ivan Pedro Martins, Carlos Lacerda, Irun Santana, Medeiros Lima e Edmundo Moniz. Segundo Irun Santana, era uma espécie de precursor da Aliança Nacional Libertadora, de 1935.
Nesta mesma década, Edmundo Moniz conheceu o intelectual Mário Pedrosa e fundaram o jornal A Luta de Classe em 1934, e a A Vanguarda Socialista, em 1945, como também fundaram o movimento trotskista com Livio Xavier, Hilcar Leite, Fulvio Abramo, Aristide Lobo, Rodolfo Coutinho, que conheceu Ho Chi Min em Moscou, Benjamin Peret e tantos outros.
Edmundo começou a dar aulas de história e filosofia no Colégio Dom Pedro II, escrever artigos para jornais e peças teatrais. No governo dos presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart dirigiu o Serviço Nacional do Teatro no Rio de Janeiro. Quando Juscelino foi eleito presidente, perguntou ao Edmundo em qual embaixada do Brasil na Europa gostaria de ser embaixador ou adido cultural, Roma? Paris? Londres? Lisboa? Madri? Berlim? Edmundo respondeu que queria ser diretor do Serviço Nacional de Teatro no Rio de Janeiro!
Foi diretor do Correio da Manhã durante vários anos e na noite tenebrosa do AI-5 de 13 de dezembro de 1968, foram prendê-lo, mas conseguiu fugir pelos telhados dos fundos que dava para uma pensão da rua do Lavradio. No dia seguinte, na troca de turma, Edmundo vestiu um macacão de operário e saiu direto para o consulado do México onde pediu asilo e ficou durante nove anos pela Argentina, Uruguai, México, Argélia e Paris.
No exílio uruguaio, Edmundo foi o intelecutor do encontro da Frente Ampla entre os ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek e o golpista corvo da Lavradio Carlos Lacerda, para a formação de uma oposição contra a ditadura militar no Brasil. Edmundo participou do último aniversário do presidente João Goulart na sua fazenda em 1º de março de 1975. Depois de vários anos, acharam fotos nos arquivos do SNI, no governo Dilma Rousseff, devolveram várias fotos do Jango, entre elas, do seu aniversário, e Edmundo aparece na comemoração.
Edmundo escreveu 16 livros mas nunca recebeu uma linha nas colunas literárias, pois seu nome era proibido de sair nos jornais desde a ditadura. A sua obra Canudos: A Guerra Social, segundo João Pedro Stédile, foi muito importante nos estudos para formação do MST. Edmundo tinha uma biblioteca de uns 25 mil livros, considerada a maior de livros marxistas. Foi secretário estadual de cultura nos dois governos do Leonel Brizola, ex-conselheiro da ABI, MAM, IHGB e PEN Clube.
O líder comunista Luiz Carlos Prestes considerava Edmundo Moniz o maior teórico marxista da América Latina. De fato, Edmundo deixou um herdeiro, seu sobrinho Luiz Alberto Moniz Bandeira, aos 81 anos, radicado em Heidelberg-Alemanha, escreveu 30 livros, alguns publicados na China e União Soviética. Seus livros são recomendados aos alunos dos cursos de diplomacia do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Sergio Caldieri – Jornalista e escritor