segunda-feira, 18 de julho de 2016

Russos já se preparam para saída brasileira do BRICS sob gestão de Serra no Itamaraty


por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho

Na esteira dos britânicos, que recentemente cederam à pressão de grupos conservadores nacionais e decidiram por deixar o bloco da União Europeia, no movimento que ficou conhecido como 'Brexit', o governo interino de Michel Temer vem demonstrando claramente que planeja se afastar dos BRICS, bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Sob a gestão do ministro interino das Relações Exteriores, senador José Serra (PSDB-SP), o Itamaraty não esconde que a atual administração é alinhada com os interesses norte-americanos e pretende dar às costas para as relações multilaterais na Ásia e África.

Circula nos corredores do Itamaraty a informação de que o atual governo interino de Temer mantém ligação direta com a Casa Branca, em Washington, restaurada após o golpe de Estado, e que a presença do Brasil entre os maiores credores do Tesouro norte-americano tornou-se incômoda, a ponto de o governo atual permanecer “na geladeira”, como afirmou um diplomata brasileiro ao jornal Correio do Brasil, em condição de anonimato.

Desde que assumiu a presidência do Brasil, Michel Temer ainda não foi recebido por nenhum dos líderes dos BRICS. Sinal de que já preveem um 'Braexit' (acrônimo para Brasil e a palavra exit, saída em inglês).

Do ponto de vista econômico, o Brasil tem muito mais a ganhar com o BRICS do que em relações unilaterais com os Estados Unidos.

Um exemplo prático é que no futuro, com o banco dos BRICS, podemos ter uma economia menos suscetível a variação do dólar e menos dependente da moeda norte-americana, como explicou o ex-ministro Celso Amorim em entrevista ao DW Brasil, em 2015.

Mas para os golpistas nada disso vem ao caso. O governo interino de Michel Temer não segue nenhuma lógica econômica, se trata do mais puro entreguismo.

Abaixo segue o artigo da agência oficial do governo russo, Pravda.

***

BRICS preparam-se para um "Braexit": adeus, Brasil

"Só para lembrar: a última vez que os EUA instalaram governo fantoche foi em 2014, quando, em mais um "golpe sem derramamento de sangue" (sic), derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um bilionário oligarca. É cenário comparável ao do Brasil, em 2016" (Zero Hedge, 13/5/2016)


no Pravda

É possível que o novo governo pró-EUA no Brasil force uma "Braexit" e derrube a muralha que protege os BRICS? Segundo Oliver Stuenkel, professor assistente de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, "muitos (sic) brasileiros acreditam que é hora de deixar" os BRICS.

Há apenas três anos, a maior nação da América do Sul declarou quedesejava desconectar-se da Internet controlada pelos EUA, por causa da vigilância ilegal que a Agência de Segurança Nacional dos EUA sobre o país, que incluíam gravar as conversas telefônicas da (então) presidenta Dilma Rousseff. Hoje, o mesmo país, sob governo (interino) de Michel Temer, considerado por muitos em todo o mundo como informante dos EUA, tende fortemente na direção do campo norte-americano. Parece também estar-se movimentando para longe do grupo BRICS, do qual o Brasil é membro fundador.

A 'conversão' do governo brasileiro não acontece por acaso. É efeito do descomunal revide contra o Partido dos Trabalhadores de Dilma Rousseff, orquestrado por uma coalizão de direita praticamente dominada por população crescente de extremistas evangélicos. De apenas 5% da população em 1970, os evangélicos já são hoje 22% dos 200 milhões da população do Brasil. Estão a caminho de se tornarem maioria já em meados do século.

As igrejas evangélicas com conexões fortes com quartéis-generais nos EUA - e não raras vezes controladas pelas 'matrizes' - já são atores muito ativos nas eleições no país, e já conseguiram reverter várias leis sociais brasileiras progressistas. É muito provável que os fiéis dessas igrejas 'de televisão', criadas à imagem de muitas que há nos EUA, logo passem a interferir também na política exterior do Brasil. Com isso, certamente o Brasil se afastará - e provavelmente se porá em campo adversário - de países como Rússia e Índia, onde ainda predomina um ethos liberal progressista.

"Campanha contra os BRICS confirma a importância dos BRICS" - Ryabkov

Em apenas 35 anos, é possível que o Brasil tenha população majoritariamente pró-EUA. É tempo mais do que suficiente para que os BRICS preparem-se para a vida sem Brasil. Há quatro vias claras para conseguir isso.

Expandir, expandir, expandir!

Ser pequeno só é virtude se você for anão em circo de excentricidades. Se a OTAN pode trabalhar com 28 membros, os BRICS, claramente muito mais importantes que a OTAN, também podem. Tendo surgido e amadurecido em torno de um núcleo de cinco nações, os BRICS devem agora se abrir para outras frentes, para ganhar mais tração. O grupo capturou a imaginação mundial como corpo capaz de pôr fim à fracassada agenda neocolonial do Ocidente. Outro trunfo dos BRICS é a ideia de crescimento equitativo, que é atrativa para um conjunto diversificado de nações.

O grupo deve investir nessa boa-vontade e convidar economias de dimensões medianas como Indonésia, Malásia, Argentina, Nigéria e Egito. Algumas dessas economias nem precisarão ser convidadas, porque querem vir. A Argentina seria excelente candidata, porque pode substituir o Brasil como representante da América do Sul. Além disso, se o Brasil decidir sair, a inclusão da Argentina obrigará o governo golpista a repensar a decisão. Ninguém no Brasil aceitará sem protesto que seu grande rival do sul substitua o Brasil numa organização poderosa como os BRICS.

Temer, o Interino

Wikileaks revela que o presidente interino do Brasil, Michel Temer, forneceu informações de inteligência ao Conselho de Segurança Nacional e a militares dos EUA, quando ainda na função de líder do partido PMDB que integrava a coalizão governante. Conforme aquela organização internacional de divulgação de informação considerada 'secreta' pelos interessados em ocultá-la, Temer manteve contato extraoficial com a embaixada dos EUA no Brasil e forneceu informação que o governo dos EUA considerou "sensível", para conhecimento "exclusivo do governo dos EUA". Dois telegramas chamam especialmente a atenção: um, datado de 11/1/2006, o outro de 21/6/2006. Um é documento enviado de São Paulo, Brasil, para - dentre outros destinatários - o Comando Sul dos EUA em Miami.

Mas em que sentido isso diz respeito aos BRICS? Se Temer é efetivamente instrumento da ação política dos EUA, pode bem introduzir uma cunha na maquinaria do grupo BRICS e paralisá-lo, mais ou menos como a Grã-Bretanha operou como cavalo de Troia dos EUA na União Europeia.

Temer, um dos articuladores do golpe para derrubar a presidenta Rousseff, ativa defensora dos BRICS, está, ele próprio sob investigação policial.

É provável que Temer e seu grupo lancem o Brasil em período de agitação e instabilidade. Como se lê no website "Zero Hedge" de inteligência financeira: "Só para lembrar: a última vez que os EUA instalaram governo fantoche foi em 2014, quando, em mais um "golpe sem derramamento de sangue" (sic), derrubaram o presidente da Ucrânia e lá instalaram um bilionário oligarca. É cenário comparável ao do Brasil, em 2016."

O grupo BRICS deve garantir que Temer não tenha meios para sabotar a coesão dos BRICS, que já está tendo de lidar com a tensão geopolítica entre Índia e China, por causa da presença de uma considerável frota da Marinha da Índia no Mar do Sul da China e da recusa, por Pequim, de aceitar New Delhi no Grupo de Fornecedores Nucleares.

Aprender com o destino de Dilma Rousseff

No governo da presidenta Rousseff, a economia brasileira andava devagar, mas andava. Contudo, como pilar fundamental do grupo BRICS, o Brasil parece ter atraído a ira dos EUA. A coalizão de partidos anti-Dilma, como o PMDB de Temer, e os grupos das igrejas evangélicas - com certeza teleguiados por Washington - criaram tantas e tais dificuldades, que a presidenta foi forçada a governar praticamente por decretos, durante a maior parte de seu segundo mandato.

Como se viu acontecer na Ucrânia, que está hoje em total desarranjo, o PIB do Brasil encolheu 3,8% em 2015, e tudo indica que encolherá outro tanto em 2016. Inflação e desemprego estão acima de 10%. O mercado de ações caiu 7% durantes as duas primeiras semanas do governo Temer; e o real perdeu 3,5% do valor em relação ao dólar norte-americano.

Índia, que assume agora a presidência dos BRICS, fará avançar as iniciativas russas

Primeiro a Ucrânia, depois o Brasil, o que virá depois? A China parece impenetrável aos esforços de desestabilização e revoluções 'das flores' dos EUA - mas a Revolução dos Guarda-Chuvas em Hong Kong foi claramente inspirada pelo ocidente. A Rússia já expulsou as agências USAID e o British Council, por interferência na política russa. Resta a Índia, que é vulnerável às táticas de desestabilização da CIA-EUA. A ascensão do Partido Aam Admi, que recebe fundos da Fundação Ford - um dos corpos operados e mantidos pela CIA - é prenúncio do que está por vir.

Livrem-se do nome "BRICS"

BRICS é sigla elegante - todos parecem adorar o som e o modo como desliza sobre a língua. Mas há um problema com siglas de organizações baseadas em nomes dos membros. Se o Brasil se afasta, a sigla encurta para RICS? Se a África do Sul deixa o grupo, o nome passa a ser BRIC?

Além disso, a sigla BRICS tem problemas também de crescimento, porque não se pode encompridar indefinidamente a sigla. De BRIC para BRICS foi fácil, mas o que acontecerá se Indonésia ou Argentina se incorporarem ao grupo. BRICSI? BRICSA?

Algum novo nome não precisa ser necessariamente harmonioso, como som. Por exemplo, o banco dos BRICS é conhecido como Novo Banco de Desenvolvimento - nada muito extraordinário, mas excelente e importante alternativa ao grandiloquente Banco Mundial. Nessa linha, todo o grupo hoje BRICS poderia ser renomeado: Novo Grupo Econômico (NGE), em inglês New Group Economic, NGE [ou, mesmo, NEW [ing. "novo"] - prosaico, mas, melhor denominação que antes.*****

WhatsAppTwitterFacebook111