quarta-feira, 4 de maio de 2016
O papel da Rússia e dos EUA na guerra de ocupação da Síria
Dr. Abdo Abage, Cônsul da Síria para o Paraná e Santa Catarina
A meu ver, a participação russa na guerra da Síria veio mais tarde do que se esperava. A Rússia tinha três excelentes motivos para se envolver na guerra. PRIMEIRO: Ela é possuidora de uma base naval no porto de TARTUS no litoral da Síria, no mar Mediterrâneo. SEGUNDO: ela é possuidora de uma base aérea no porto de LATAKIA na Síria, também no mar Mediterrâneo. Todo o movimento comercial e estratégico militar que se destina a Rússia ou que vem da Rússia para se destinar a outros países, circulam por esses dois portos. TERCEIRO e principal motivo: o gasoduto que vem da Rússia e abastece 30% do gás consumido pela Europa, passa pelo território da Síria. E por que? Pela posição estratégica que a Síria ocupa no Mar Mediterrâneo.
A Síria, antes da participação russa na guerra, vinha perdendo muitas cidades e posições estratégicas para as tropas de mercenários que lutam naquele país. Vendo aos poucos seu país e seu povo sendo dizimado, o Presidente Bashar houve por bem em solicitar a colaboração russa para poder enfrentar a oposição síria que luta com armamento altamente sofisticado, fornecido por países da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), principalmente os EUA.
É de se lamentar que países como Estados Unidos, Turquia, Arábia Saudita, Qatar, Israel e Jordânia, apenas para citar os mais envolvidos, venham cometendo o genocídio do povo sírio, em parte para implantar o seu domínio geo-político dentro do Oriente Médio, ao mesmo tempo em que conseguem recuperar as suas combalidas economias com o faturamento de venda de armamentos.
É de se lamentar também que em pleno século XXI, a ONU – Organização das Nações Unidas, que foi criada para sustentar a qualquer preço a paz entre as nações do mundo, tenha perdido essa finalidade, pelo simples fato de alguns países terem colocado acima daqueles ideais, os seus interesses mais mesquinhos.
Ainda a meu ver, a ONU perdeu o seu objetivo principal quando foi fragorosamente desmoralizada pelo governo George W. Bush, no momento em que o mesmo não quis saber do resultado do relatório da comissão designada pelas Nações Unidas para verificação da existência de armas de destruição em massa produzidas por Sadam Husssein, então Presidente do Iraque, acusado que foi de fabricar aquelas armas. Absolutamente nada foi provado.
No exato momento em que o governo Bush deixou de acatar o resultado daquele relatório, ele decretou a morte da atribuição maior da ONU, que era a de evitar guerras promovendo a paz no mundo. A paz acabou e as guerras se multiplicaram.
E assim, sem nenhuma justificativa, foi consumada a invasão do IRAQUE em abril de 2003 com mais de 200.000 (duzentos mil) homens, por tropas da “coalizão”, que teve como verdadeiro objetivo apoderar-se na época da terceira maior reserva de petróleo do mundo.
E o resultado continua sendo a destruição do IRAQUE até os dias atuais, onde já morreram seguramente mais de 3.000.000 (três milhões) de iraquianos entre militares, idosos, jovens e crianças.
Antes disso os EUA invadiram o AFEGANISTÂO em novembro de 2001, com o intuito de se apoderar do gás natural daquele país, então a maior reserva do mundo.
É de causar espanto, que a desculpa vergonhosa para essa invasão foi a de “caçar” o “terrorista” BIN LADEN, que nunca foi localizado naquela região.
Em seguida houve também a invasão da LÍBIA, para se apoderar das jazidas de petróleo daquele país, consideradas como o petróleo mais puro produzido na região da África do Norte. Hoje também é um país destruído.
Para finalizar, os países que compõem a OTAN estão a destruir a SÍRIA e seu povo, com a vergonhosa desculpa de implantar naquele país uma democracia, que afinal de contas ninguém, absolutamente ninguém, pediu que assim o fizessem, muito menos o povo sírio.
A Síria vinha de uma crescente ascensão social, econômica e de qualidade de vida, que tive a honra e satisfação de vivenciar nas 6 (seis) viagens que fiz a terra de meus pais.
A Síria e a Rússia são parceiros comerciais desde a década de 70, sendo muito natural que neste grave momento a Rússia venha em socorro da Síria e de seu povo, e ademais para salvaguardar os seus interesses naquele país, que estão sendo ameaçados por potências que visam apenas implantar na região do Oriente Médio, uma nova ordem mundial.
Dr. Abdo Abage
Cônsul da Síria para o Paraná e Santa Catarina