segunda-feira, 2 de maio de 2016

A consolidação do "golpe paraguaio" no Brasil


Juan Manuel Karg - Actualidad RT

A presidenta Dilma Rousseff alertou em outubro de 2015 sobre a intenção de um “Golpe Paraguaio” que começava a se planejar em seu país. A advertência se produziu apenas um ano depois de seu triunfo eleitoral, onde 54 milhões de brasileiros optaram pelo Partido dos Trabalhadores, derrotando uma vez mais o PSDB. Naquela ocasião a direita começou a falar de uma “terceira eleição” nas ruas, pedindo a renúncia da presidenta durante os meses seguintes à eleição. Tudo era pavimentado por o tridente midiático concentrado (Globo, Folha, Estadão) que centrava sua atenção na Lava Jato, investigação onde paradoxalmente Dilma não aparece.

O “Golpe Paraguaio” já está em desenvolvimento diante de nós, apenas seis meses após aquela advertência. Gerado pela dupla Temer-Cunha, do PMDB, em aliança explícita com o PSDB de Neves-Alkmin-Cardoso. Como se vê, agrupações e nomes que aparecem tanto na Lava Jato como nos mais recentes Papéis do Panamá. Pequenos partidos evangélicos e deputados ultradireitistas como os irmãos Bolsonaro agregaram o condimento final à preparação de um “impeachment” verdadeiramente inexplicável à luz da opinião pública internacional. A suposta “nova direita”, saudada previamente por rios de tinta que destacavam seus atributos democráticos, abriu passo ao que verdadeiramente é: uma direita raivosa, que se vale das instituições para atuar contra essas mesmas instituições, provocando o absurdo de que 367 deputados afastem mais de 54 milhões de brasileiros dos destinos de seu país.

A conexão externa, ademais, é nítida: a agência Reuters ratificou que Goldman Sachs controlaria a economia do Brasil através da possível designação de Paulo Leme no gabinete econômico de Temer. Isto explica porque diversos analistas também consideram o golpe institucional em curso como um deliberado embate aos BRICS e aos países emergentes, que nos últimos anos criaram mecanismos alternativos ao FMI e ao Banco Mundial, como o Banco de Desenvolvimento e Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura contra os quais Washington desenha o TPP (Acordo Transpacífico).

Temer tem um desafio evidente, olhando o espelho paraguaio: não ser Frederico Franco. Naquela ocasião a direita paraguaia utilizou o enigmático personagem em questão para retomar o poder político e desbaratar Lugo. Porém Franco foi velozmente descartado, já que internacionalmente está ligado à armação golpista pela qual o Paraguai foi separado velozmente do MERCOSUL. Temer, a serviço da FIESP e GLOBO, cumpre seu mandato temporal: afastar Dilma, desbancar o PT. A relativa cautela da direita latino americana a respeito ao projeto institucional de Temer ilustra o desafio deste: não se converter velozmente em um personagem descartável, no Franco brasileiro.

Tradução: Vera Vassouras