sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Putin faz oferta que Obama não pode recusar


Mike Whitney, Counterpunch -tradução: Vila Vudu

Por que John Kerry está tão desesperado para conseguir uma reunião de emergência sobre a Síria, de repente, depois de quatro anos e meio de guerra?

Estará assim aflito porque a campanha aérea dos russos está varrendo número excessivo de jihadistas terroristas apoiados pelos EUA e sabotando o plano de Washington para depor o presidente Bashar al Assad da Síria? Ah, sim! Podem apostar que sim.

Ninguém que esteja acompanhando os eventos na Síria ao longo das últimas três semanas pode ter qualquer dúvida sobre o que realmente se passa ali. A Rússia está metodicamente varrendo mercenários que os EUA arma e paga para operarem no solo, ao mesmo tempo em que vai recapturando territórios que estavam perdidos para os mesmos mercenários e terroristas. Isso, por sua vez, fortaleceu a posição de Assad em Damasco e deixou em farrapos a política do governo dos EUA. Por isso, precisamente, Kerry tanto quer mais uma reunião com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, o mais urgentemente possível (apesar de os dois terem-se encontrado a menos de uma semana!). O secretário de Estado espera conseguir alguma espécie de acordo costurado sobre a coxa, que ponha fim à matança de terroristas e salve o que resta do puído projeto sírio do Tio Sam.

Na 3a-feira, a agência Reuters noticiou que o Irã havia sido convidado para as negociações a se desenrolarem em Viena na 5a-feira. O anúncio será ferozmente criticado na colina do Capitólio, mas só faz mostrar até que ponto é a Rússia quem, hoje, determina a agenda. Foi Lavrov quem insistiu em que o Irã fosse convidado, e foi Kerry quem, relutantemente, capitulou. Agora, é Moscou quem ocupa a cabine de pilotagem.

E que ninguém se surpreenda se a reunião de Viena produzir também alguns resultados bem chocantes, como virada dramática de 180º na 'exigência' de Washington, de que "Assad tem de sair". Como Putin já assinalou várias vezes, Assad não sairá para canto nenhum. Ele será parte do "corpo de governo transicional" da Síria, quando afinal a equipe de Obama aceitar o Comunicado de Genebra, que é a trilha política que pode, eventualmente, levar ao fim do conflito, restaurar a segurança e permitir que milhões de refugiados voltem às próprias casas.

A razão pela qual o governo Obama acabará por aceitar que Assad fique, é porque, enquanto não aceitar, a Força Aérea Russa continuará a pulverizar mercenários terroristas pagos pelos EUA. Assim, como qualquer um vê, Obama realmente não tem escolha. É como se Putin lhe encostasse uma pistola na cabeça e lhe fizesse oferta irrecusável.

Não significa que a guerra será um mar de rosas para a Rússia ou seus aliados. Não será. De fato, há houve revezes consideráveis, como o ISIS ter conseguido tomar trecho crucialmente importante da autoestrada Aleppo-Khanasser, cortando as linhas de suprimento do governo para Aleppo. É problema grave, não é problema insuperável, nem é coisa que afete o resultado da guerra. É um dos obstáculos com os quais é preciso lidar e ultrapassar. Se se analisa de um ponto de vista mais amplo, o prognóstico é muito mais encorajador para a coalizão dos russos, que continua a cortar linhas de suprimento, a explodir depósitos de munição e combustível e vai rapidamente reduzindo a capacidade do inimigo para manter a guerra. Assim, embora sem dúvida a guerra não seja um mar de rosas, não há nenhuma dúvida de quem vencerá.

E isso pode explicar por que os EUA resolveram bombardear a principal usina de produção de eletricidade de Aleppo, com o que lançou a cidade na mais profunda escuridão: porque Obama obra para "escombrar"[1] tudo que apareça no caminho. Não esqueçam que as estações locais para tratamento de água exigem energia elétrica. Então, bombardeando a usina geradora, Obama condenou dezenas de milhares de civis ao cólera e outras doenças contraídas pelo contato com água não tratada.


Tudo sugere que nosso presidente bombardeador de hospitais não perde jamais o sono com coisas triviais como mandar matar mulheres e crianças. Agora vejam essa, do Daily Star, Líbano 22/10/2015):

"Forças da coalizão liderada pelos EUA no Iraque e na Síria executaram ataque em grande escala contra o campo de petróleo Omar, da Síria, como parte da missão de minar a capacidade de o ISIS fazer dinheiro, disse na 5a-feira um porta-voz da coalizão.

O major Michael Filanowski, oficial de operações, disse a jornalistas em Bagdá que os ataques da 4a-feira à noite atingiram refinarias de petróleo controladas pelo ISIS, centros de comando e controle e nodos de transporte no campo de Omar, próximo à cidade de Deir el-Zour. Porta-voz da coalizão, coronel Steven Warren, disse que o ataque atingiu 26 alvos, o que faz dele o maior conjunto de ataques desde o lançamento da campanha, no ano passado.

A refinaria gera entre $1,7 e $5,1 milhão/mês para o ISIS.

"Foram alvos muito específicos, que resultarão em incapacitação de longo prazo da habilidade deles para vender petróleo, extraí-lo do solo e transportá-lo" – disse Filanowski.

ISIS tomou várias refinarias de petróleo e outras instalações de infraestrutura no Iraque e na Síria, buscando gerar renda para construir estado autossuficiente" ("US-led forces strike ISIS-controlled oil field in Syria", Daily Star).

Não é mesmo enormíssima surpresa que agora – depois de um ano de varrer o deserto à procura de alvos no ISIS –, repentinamente a Força Aérea dos EUA afinal descobre onde se escondiam as malditas refinarias?! Não surpreende que até a mídia-empresa tenha optado por não comentar esses 'feitos'.

A única conclusão possível é que Obama nunca teve qualquer intenção de cortar o principal fluxo de dinheiro que sempre abasteceu o ISIS (venda de petróleo). A única coisa que Obama queria era que o grupo terrorista florescesse e prosperasse, desde que ajudasse Washington a alcançar suas metas estratégicas. Putin até já disse isso, em recente entrevista:

"Os mercenários ocupam os campos de petróleo no Iraque e na Síria. Começam a extrair petróleo, e esse petróleo é vendido por alguém. Onde estão as sanções contra essas pessoas que vendem esse petróleo?

Alguém acredita que os EUA não saibam quem está comprando?

Quem está comprando o petróleo do ISIS não seriam os próprios aliados dos EUA?

Vocês não acham que os EUA tem poder para influenciar seus aliados? Ou será o caso de que os EUA não queiram influenciá-los?"

Putin jamais se deixou enganar pelo empreendedorismo do ISIS no campo da extração e venda de petróleo. Sempre soube que sempre foi pura farsa, desde o primeiro momento, desde quando o Financial Times publicou aquele artigo engraçadíssimo, no qual argumentava que o ISIS tinha seu próprio grupo de "caçadores de talentos", e oferecia "salários competitivos" para engenheiros com a "capacidade exigida", e estimulava "empregados potenciais" a procurarem o Departamento de Recursos Humanos do grupo, e preencher uma ficha."

"Departamento de Recursos Humanos do ISIS"?? Alguém algum dia leu 'jornalismo' mais ridículo, em toda a sua vida?! (A história completa está aqui [ing.].)

Em entrevista ao NPR, a fantasista profissional a serviço do Financial Times Erika Solomon (autora da peça) explicou por que os EUA não podiam bombardear campos de petróleo ou refinarias. Eis o que ela disse:

"O que o ISIS fez foi encastelar-se no centro de controle do processo de extração, o que é muito esperto, porque não podem ser bombardeados lá. Causaria desastre natural (sic). Então eles extraem o petróleo e imediatamente o vendem a comerciantes locais – qualquer pessoa comum que possa comprar um caminhão onde possa instalar um tanque de petróleo."

Ora... com certeza essa 'organização' não foi suficiente para deter o major Filanowski, não é? Tudo indica que ele fez voar pelos ares as tais refinarias do ISIS sem nenhuma dificuldade ou preocupação 'ecológica', o que apenas comprova que o conto de fadas do tal "desastre natural" da Solomon é pura conversa fiada.

Mas se tudo sempre foi conversa fiada, nesse caso por que, de repente, a Força Aérea dos EUA decide acertar os alvos? O que mudou?

Eis aqui uma pista, de artigo que apareceu em RT exatamente um dia antes dos ataques norte-americanos que acertaram as refinarias:

"Para cortar as vias usadas pelo Estado Islâmico (EI, antes chamado ISIS/ISIL/Daesh) para entregar suprimentos do Iraque para a Síria, aviões russos bombardearam uma ponte sobre o Rio Eufrates – informou o Alto Comando russo.

A ponte sobre o Rio Eufrates perto de [cidade síria] Deir ez-Zor era ponto chave da cadeia logística [do EI]. Hoje, pilotos russos realizaram ataque cirúrgico contra o objeto" – informou o vice-comandante do Estado-maior da Rússia, coronel-general Andrey Kartapolov, na 5a-feira, em briefing de notícias, acrescentando que a rota pela qual o grupo terrorista recebia armamento e munições já não existe." ("Russian Air Force cuts off ISIS supply lines by bombing bridge over Euphrates", RT)

Aí está: os russos explodem ponte crítica sobre o Eufrates, tornando impossível o transporte de petróleo e, em seguida, de repente, BUUM, os EUA entram em surto de não-deixe-pedra-sobre-pedra-até-onde-a-vista alcança. É coincidência?

Não, não é, de jeito nenhum, absolutamente não é coincidência. O que esse incidente sugere é que a todo poderosa CIA está metendo no saco o seu projeto-menina-dos-olhos na Síria e tomando o rumo da porta da saída. (Vale observar que o ISIS nunca foi franquia empresarial autossuficiente, que embolsaria milhão de verdinhas por dia só com vender petróleo, como a propaganda tenta fazer crer. Tudo aí é parte da cobertura de 'Relações Públicas' que opera para ocultar o fato de que aliados do Golfo e provavelmente operadores clandestinos da CIA estão pagando casa e comida e roupa lavada e munição para esses maníacos homicidas.)

Seja como for, a intervenção russa está obrigando Washington a repensar sua política para a Síria. Enquanto Kerry engata marcha a ré, para pôr fim aos combates, Obama sua a camisa para modificar a política de modo que acalme os críticos da direita, sem provocar confronto com Moscou. É cena de equilíbrio em corda bamba, mas a equipe de 'Relações Públicas' da Casa Branca acha que dará conta do serviço. Vejam o que diz a rede NBC News:

"O secretário da Defesa Ash Carter revelou hoje que os EUA iniciarão abertamente "ação direta em solo" contra as forças do ISIS no Iraque e na Síria.

Em depoimento à Comissão de Serviços Armados do Senado, na 3ª-feira, Carter disse "não deixaremos de apoiar parceiros capazes, em ataques oportunistas contra o ISIL (...) ou de conduzir diretamente essa missão, seja por ataques aéreos ou ação direta em solo" ("Sec. Carter: U.S. to Begin ‘Direct Action on the Ground’ in Iraq, Syria", NBC News).

Ouvido assim, soa muito pior do que é. Verdade é que Obama não tem estômago para o tipo de escalada que falcões-doentes-por-guerras (tipo Hillary Clinton e John McCain ) vivem a 'exigir'. Não haverá nenhuma "zona segura" nem "zona aérea de exclusão" nem qualquer tipo de provocação que gere risco de confrontação sangrenta com Moscou. Obama está à procura da melhor estratégia de livrar a cara que lhe permita sair logo de lá sem incorrer na ira mortal dos doidos-por-guerra em Washington. Não que seja fácil de acreditar, mas o secretário da Defesa Ash Carter apareceu com um plano que talvez opere o milagre. Eis o que se lê em The Hill:

"O secretário da Defesa Ash Carter na 3ª-feira descreveu novos modos como os militares dos EUA planeja aumentar a pressão sobre o Estado Islâmico no Iraque e Síria, depois de meses de críticas de que o governo não estaria fazendo o necessário para derrotar o grupo terrorista.

"As mudança que buscamos podem ser descritas pelo que chamo "Os 3 Rs" – Raqqa, Ramadi e Raids" – disse Carter em depoimento à Comissão de Serviços Armados do Senado.

Primeiro, Carter disse que a coalizão liderada pelos EUA contra o ISIS planeja apoiar forças sírias moderadas para atacar Raqqa – quartel-general e fortaleza do grupo terrorista e capital administrativa.

O secretário disse também que espera ativar outra via para equipar a Coalizão Árabe Síria, que consiste em cerca de uma dúzia de grupos.

"A velha abordagem foi treinar e equipar completamente novas forças fora da Síria, antes de mandá-las à luta; a nova abordagem e trabalhar com líderes selecionados de grupos que já estão combatendo contra o ISIL, e dar-lhes equipamento e algum treinamento a eles e apoiar as operações deles com força aérea" – disse ele.

Também disse que a coalizão espera intensificar sua campanha aérea com mais aviação dos EUA e da coalizão, e atacar o ISIS com taxa mais alta e mais pesada de ataques.

"Haverá mais ataques contra alvos de alto valor do ISIL, agora que nossa inteligência melhora, e também contra o empreendimento deles na área do petróleo, que é pilar crítico da infraestrutura do ISIL" – disse Cartar, usando outra abreviatura para o mesmo ISIS." ("Pentagon chief unveils new plan for ISIS fight" [Chefe do Pentágono revela novo plano para a luta contra ISIS], The Hill).

Algo de novo aí? NADA-búrguer dos grandes, certo? Vão matar mais "alvos de alto valor"?

Grande coisa! E não foi esse o plano, sempre, desde o começo? Claro que foi.

O que tudo isso mostra é que Obama está querendo ver se consegue manter toda essa confusão em fogo baixo, até que ele pule fora do governo e negocie os termos do seu primeiro grande contrato para livros de memórias. A última coisa de que Obama precisa é meter-se em briga de foice com o Kremlin, e logo no último ano de seu mandato.

Infelizmente, o problema que espera Obama é que Putin não pode simplesmente desligar a máquina de guerra, como quem desliga uma lâmpada. Moscou precisou de muito tempo até decidir-se a intervir na Síria, assim como precisou de muito tempo para comandar todas as forças a empregar lá, construir sua coalizão e construir o plano de batalha.

Guerra para os russos é assunto de extremíssima gravidade, e agora que puseram a bola em jogo não pararão até terem completado o serviço, e o núcleo duro reprodutivo dos terroristas tenha sido exterminado. Significa que não haverá cessar-fogo no futuro imediato. Putin tem de demonstrar que, quando Moscou compromete suas forças, o compromisso persiste até a vitória. Pode ser vitória em formato de "libertar Aleppo" e subsequente vedação completa da fronteira turco-síria, ou talvez Putin tenha outra coisa em mente.

Mas é também questão de credibilidade. Se Putin retrocede, hesita ou mostra um átomo que seja de indecisão, Washington verá ali um sinal de fraqueza e tentará explorá-lo. Assim sendo, Putin não tem escolha além de levar a coisa até o fim, amargo que seja. No mínimo, Putin precisa provar a Washington que, quando a Rússia envolve-se, a Rússia vence.

Essa é a mensagem que Washington precisa ouvir.*****

[1] Orig. "rubblize" neologia, de rubble [escombro] + sufixo formador de verbo –ize [-izar]. A expressão parece ter surgido em 2014, em discurso de representante Republicano que 'exigia' que Obama "rubblize" a Palestina. Tradução também neológica, igualmente horrível, pode ser "escombrizar" [NTs].

"Estado de Justiça": muçulmanos anticapitalistas da Turquia"


Orient XXI, Ayşe Akyürek, Ancara - Tradução: Vila Vudu

Populares desde a refeição coletiva que marcou o fim do jejum do Ramadan (iftar) organizada na rua como um dos eventos da praça Gezi em Istanbul na primavera de 2013, os muçulmanos anticapitalistas põem em discussão não só o sistema econômico, mas também a governança política da Turquia e do Oriente Próximo.

Convencidos de que nem o teocratismo nem a laicismo são sistemas adaptados àquela parte do mundo, eles propõem uma terceira via que chamam de "Estado de Justiça".

O ideólogo dos muçulmanos anticapitalistas é İhsan Eliaçık1. Militante na juventude do movimento Akıncı gençler (Jovens Cavaleiros),2 Eliaçık separa-se em 2003 de seus antigos companheiros de caminho – que hoje estão no poder –, para conduzir sua própria reflexão sobre o Islã e a sorte da Turquia. Propõe então o conceito do "Islã Social", revolucionário, democrático e liberal, que ele opõe ao Islã puramente metafísico. Esse Islã espiritual, que não tem qualquer efeito direto sobre a vida social e quotidiana dos homens, não passaria de vetor de superstições e tradições erradas. Com o objetivo de corrigir o que considera como ideias recebidas, e de trazer à luz a mensagem divina, em 2003 Eliaçık publica sua própria tradução do Corão, que intitula "O Corão vivo" ("Yaşayan Kur’an"). Declara que busca dar destaque ao caráter atemporal e universal do livro santo do Islã, e fazer um livro de referência para a vida cotidiana.

Para Eliaçık, marxismo e Islã não são incompatíveis. Estabeleceu uma correlação entre (i) as noções de propriedade, enriquecimento, doação, esmola e juro que aparecem frequentemente citados no Corão e (ii) as noções de material, propriedade, capital, dinheiro e trabalho que aparecem em O Capital de Karl Marx. Se, para Eliaçik, o socialismo e o comunismo são conciliáveis com o Islã, o mesmo não se pode dizer do capitalismo.

Por isso os muçulmanos anticapitalistas criticam, em todas as suas manifestações, o que chamam de "Abdestli kapitalizm" ("capitalismo purificado"). Essa expressão denuncia a nova burguesia muçulmana, que mascararia o capitalismo sob vestes da religião. Atualmente, o alvo dessas críticas é o Partido Justiça e Desenvolvimento (tu. AKP) atualmente no poder, democrata conservador. Esses novos muçulmanos burgueses, ex-companheiros de estrada de Eliaçık e que partilhavam o ideal de um "islã sem fronteiras e sem classes", segundo ele, ter-se-iam separado, para criar nova classe, cuja "ideologia" se resumiria ao conformismo e ao carreirismo.

Resolução pacífica dos conflitos

A denominação "muçulmanos capitalistas" para designar o homem e seus partidários pode contudo ser enganosa ou, no mínimo, incompleta. De fato, não só a governança econômica foi posta em questão, mas também a governança política, e isso num quadro de conflito interno. Eliaçık utiliza a questão das minorias étnicas e especialmente a questão curda para expor sua concepção de Estado.

Para remediar o que chama de "problema de justiça e de igualdade" e para evitar que a Turquia seja convertida em "presa, para o imperialismo", Eliaçık propõe fazer da Anatólia um "Estado de Justiça" ("adalet devleti"), similar ao "sistema justo" ("adil düzen") formulado por Necmettin Erbakan nos anos 1990: um sistema islamista que repousa sobre a paz, a justiça e a liberdade das pessoas de todas as confissões, de todas as origens étnicas e de todos os níveis sociais. Por isso, faz referência à história da localização da Pedra Negra no muro da Kaaba em Meca. O conflito entre as tribos que se consideravam todas as mais legítimas para fazê-lo foi resolvido graças à arbitragem do Profeta Maomé. Esse evento seria um símbolo de lealdade e representaria um modelo para a resolução dos conflitos que se veem no Oriente Médio e principalmente na Turquia.3

Mas a igualdade das religiões parece comprometida, pelo menos por hora, uma vez que Eliaçık não prevê que se excluam os valores sociopolíticos do Islã desse seu suposto novo Estado.4 Nesse sentido, não se trata concretamente de Estado neutro. Ele sugere que se analisem profundamente quatro eventos cruciais:

– o "pacto dos virtuosos" (hilf al-fudul), firmado entre vários clãs coranistas alguns anos antes da missão do Profeta, depois de um conflito brotado de uma transação não equitativa;

– o pacto de Medina, ou Constituição de Medina: concluído em 622 do calendário da Hégira, o pacto de Medina é texto assinado pelos coranistas e medinenses. Ali se fixam as leis sobre as liberdades individuais, a segurança, a defesa e a justiça entre tribos;

– o último sermão do Profeta (khutba al-wada), pronunciado quando da última peregrinação a Meca, e cujo tema principal é a questão dos direitos do homem, como liberdade de culto, igualdade e segurança;

– a revelação corânica, para compreender o ideal político-social do Profeta Maomé.

Vídeo: Convocação para manifestação dia 1/5/2015, perto da mesquita Fatih em Istanbul, para "romper as cadeias" e "libertar os escravos" do capitalismo.

Para o confederalismo democrático

Cidade-estado constituída em torno da noção de "Umma" – não definida no sentido atual de "comunidade muçulmana", mas "de cidadãos" –, o pacto de Medina representaria união sociopolítica, não união religiosa, e se apresentaria portanto como modelo do Islã democrático, e a Umma encarnaria o que hoje se define como o confederalismo democrático.5

Noção introduzida na Turquia por Abdullah Öcalan, líder do Partido dos Trabalhadores do Curdistão [cur. PKK], o confederalismo democrático representa uma administração política não estatal. Nascido da vontade de promover a liberdade e a autonomia do povo curdo, sem contudo questionar as fronteiras políticas da atual Turquia, o confederalismo democrático é, para Öcalan, o paradigma da "modernidade democrática" contra a "modernidade capitalista". Ele considera o nacionalismo e o estado-nação como fonte dos problemas do Oriente Médio, e opõe-se por isso à criação de um estado-nação curdo.

A resolução do problema curdo na Turquia, sem recorrer ao estado-nação e ao sistema capitalista seria, assim, um dos fatores-chaves para resolver os problemas do Oriente Médio.6

O pacto de Medina ganhou importância na Turquia, sobretudo depois do Congresso Democrático dos Povos (Halkların demokratik kongresi), realizado em Diyarbakir em maio de 2014, por iniciativa de Ökcalan e com participação e apoio do Partido Democrático dos Povos (cur. HDP)7. Em 2011, Eliaçık já convidara o Partido Paz e Democracia (cur. BDP) e o PKK a considerarem a religião no processo de resolução do conflito e a participarem da propagação do Islã revolucionário. Convidara dirigentes e militantes do movimento curdo a aceitarem o Islã como realidade social, mesmo no caso de alguns deles não serem muçulmanos.

IMAGEM: İhsan Eliaçık dirige a oração da 6ª-feira, na Praça Taksim, quando da ocupação do Parque Gezi, em julho de 2013

Apoio ao Partido Democrático dos Povos (cur. HDP)

Mesmo declarando que não tinha intenção de engajar-se ativamente na política, Eliaçık jogou abertamente todo seu peso a favor do HDP – que considera como o partido mais próximo de seus ideais, em termos de igualdade religiosa, étnica, confessional, mas também quanto à igualdade entre homens e mulheres e a igualdade econômica. Além disso, adota discurso sem precedentes sobre a posição de Abdullah Öcalan na solução do problema curdo.

Para Eliaçık, o movimento curdo deveria ampliar sua visão – o que parecia irrealizável, enquanto o líder deles estivesse preso. A solução portanto seria libertar Öcalan para concretizar o projeto de confederalismo democrático e construir uma sociedade pluralista baseada no consentimento de cada um. Consciente de não ser bem acolhido por correligionários e compatriotas, justifica suas ideias com uma remissão à surata Ar-Rum do Corão:

30.21 . "Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie, para que com elas convivais; e colocou amor e piedade entre vós. Por certo que nisto há sinais para os sensatos."

30.22 . E entre os Seus sinais está a criação dos céus e da terra, as variedades dos vossos idiomas e das vossas cores. Em verdade, nisto há sinais para os que discernem (Corão 30: 21-22).

Os muçulmanos capitalistas ainda não parecem, por hora, ser levados muito a sério. São criticados, de um lado, por falta de profundidade intelectual, e, de outro, por um engajamento considerado utopista. Mas, mesmo assim, a presença deles na paisagem político-religiosa pesa a favor da diversificação do discurso islâmico.

Notas
1 Para mais detalhes, ver Ayşe Akyürek, "Yeryüzü sofrası", símbolo do anticapitalismo muçulmano, Dipnot IFEA, 8/7/2015.
2 Criado em 1980, Akıncı gençler brotou do movimento político islamista Milli Görüş (Visão nacional). Seus principais slogans eram: "Por um Estado islâmico sem fronteiras e sem classe" e "Xaria ou morte" (Abdullah MANAZ, Türkiye’de siyasal islamcılık, İq kültür sanat yayıncılık, 2008; pp. 252-285).
3 İhsan Eliaçık, " Kürd sorunu, Kanlıçanak ve Hacer’ul-Esved ", Adil medya, 4/9/2011.
4 İhsan Eliaçık, Adalet devleti, ortak iyinin iktidarı, Bakış yayınları, 2003; pp. 483-567.
5 İhsan Eliaçık, " Demokratik toplum, Konfederalizm ve Medine sözleşmesi " , Adil medya, 25/2/2014.
6 Abdullah Öcalan, Confédéralisme démocratique,, 2011.
7 "Diyarbakır’da Demokratik İslam Kongresi ", BBC, 10/5/2014.

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Vídeo de propaganda das refeições coletivas "sentados no chão", no final do jejum, organizadas pelos Muçulmanos. Observar que a trilha sonora é a mesma que Mikis Theodorakis compôs para o filme Z, de Costa-Gavras (1969) [Nota de Tlaxcala].

Sobre a autora:
Ayşe Akyürek é doutoranda em Ciências da Religião na École Pratique des Hautes Études (EPHE), Paris, e bolsista do Institut Français d’Études Anatoliennes, Istanbul. Sua tese de doutoramento estuda a reinvenção, no século 21, da Mevleviye (Ordem Mevlevi de Konya, criada por Jalal al-Din Rumi no século 12), intitulada Pratique de la musique et de la danse soufie par les femmes : La modernisation des rituels à travers le ney et le semâ à Paris et à Istanbul ".

Tropa de elite do Estado Islâmico se rende ao exército sírio


Uma fonte exclusiva da Inteligência militar da Síria revelou à Sputnik que um destacamento inteiro das "forças de operações especiais" do Estado Islâmico se rendeu nesta quinta-feira (29) às forças do governo sírio na província de Quneitra, na região das Colinas de Golã.

"No decorrer de uma operação especial bem-sucedida na província de Quneitra um destacamento inteiro das forças de operações especiais do EI se rendeu ao exército do governo. Durante combates brutais próximo ao povoado Khan Arnab mais de 50 terroristas foram cercados e baixaram suas armas após a morte de seu comandante Mujahid ibn Zara" – disse o interlocutor da agência.

Nas suas palavras, grande parte dos terroristas rendidos passou por um intenso treinamento militar em campos de treinamento dos EUA no território da província de Deir ez-Zor, no leste da Síria, aprendendo técnicas avançadas de sabotagem, trabalho com explosivos, orientação em campo de batalha e transferência de coordenadas de localização.

O destacamento chegou a promover diversos atos terroristas de grande proporções na cidade de El Hasaka, no nordeste do país, e minou prédios do governo em Damasco, acrescentou a fonte.

"Entre os prisioneiros também foram identificados combatentes treinados num campo perto da cidade de Al-Dar al-Kabir, no oeste da Síria. Um deles confessou que o seu grupo concluiu um curso especial voltado para sistemas de segurança de instalações estratégicas do exército sírio e estava planejando promover amplas sabotagens em posições e unidades do exército sírio equipados com sistemas de mísseis tático-operacionais Scud [R-300]" – acrescentou o interlocutor.

Sputniknews

Segundo ex-agente da CIA, o oleoduto clandestino do Estado Islâmico passa pela Turquia


O ex-agente da CIA e investigador do comitê do senado dos EUA para relações exteriores, John Kiriakou, disse ao Sputnik que, provavelmente, grande parte da exportação ilegal de petróleo realizada pelo Estado Islâmico acontece através do território do Curdistão iraquiano e da Turquia, com ajuda das autoridades corruptas no local.

“Eu sempre tive a suposição de que alguém do lado turco da fronteira estivesse fazendo um bom dinheiro com isso. Existem interessados demais para que isso simplesmente deixe de acontecer”, disse Kiriakou.

O ex-agente da CIA destacou que as reservas mais ricas de petróleo em posse dos terroristas estão no sul do Iraque. Dessa forma, a rota mais óbvia para a exportação desses recursos passaria também pelos territórios dos curdos.

A Turquia é um aliado dos EUA na região e é membro da OTAN há 60 anos. No entanto, segundo Kiriakou, o governo de Ancara não consegue fazer nada contra a corrupção dos governos locais.

“[A responsabilidade] não é do governo oficial turco. Provavelmente são os elementos corruptos do exército turco e no governo regional no sudeste da Turquia que estão envolvidos nisso”, explicou o norte-americano.

Segundo os dados do ministério das finanças dos EUA, o Estado Islâmico faturou cerca de um bilhão de dólares com roubo de bancos das áreas conquistadas e lucra de 40 a 50 milhões de dólares por mês com a venda do petróleo.

Sputniknews

Bolivia construye un complejo nuclear de $300 millones


El presidente de Bolivia, Evo Morales, anuncia planes para construir un complejo nuclear con una inversión de 300 millones de dólares, incluyendo un reactor de investigación.

"Este centro va a tener un costo de 300 millones de dólares, está previsto su culminación de instalación en cuatro años, va a ser con la tecnología de Rusia y con la participación de algunos países de Sudamérica, como Argentina", explicó el jueves el jefe del Ejecutivo boliviano durante una conferencia de prensa.

El centro, según las informaciones ofrecidas por el máximo mandatario de Bolivia, contará con un ciclotrón para radiofámacos, planta multipropósito de radiación gama y un reactor nuclear de investigación.

Asimismo, Morales informó de que el centro nuclear se construirá en un espacio de la ciudad industrial de El Alto (oeste), y al mismo tiempo recalcó que no constituye ningún riesgo para los seres humanos ni el medio ambiente.

El Gobierno había planeado en principio establecer el complejo de investigación en las afueras de La Paz (capital boliviana), pero las protestas de los vecinos de la zona en el pasado mes de septiembre echaron por tierra ese plan.

Efectivamente, a principios de septiembre, habitantes de la zona de Mallasilla se manifestaron contra la instalación allí del centro de investigación nuclear, alegando posibles efectos negativos para la agricultura y la ganadería de la zona.


La zona de Mallasilla, en las afueras de La Paz (Bolivia).


La puesta en marcha de este centro, subrayó el máximo responsable de Bolivia, ayudará al país andino a desarrollarse en los campos científico y tecnológico, y supondrá además beneficios para la medicina, la agroindustria y la formación de una comunidad de científicos bolivianos.

"Algunos opositores dicen si el Evo o el Gobierno instala este centro va a crecer políticamente, entonces hay que perjudicarlo (…) los proyectos grandes no se pueden mirar desde un punto de vista partidario ni personal, sino hay que ver desde un punto de vista regional, departamental y nacional", agregó el presidente sudamericano.

La Corporación Nuclear Estatal Rusa (Rosatom) y el Gobierno boliviano firmaron a principios del mes en curso un convenio de cooperación para desarrollar el proyecto de energía nuclear de uso civil.

Además, funcionarios de Argentina y Bolivia sostuvieron una reunión el 20 de octubre para profundizar sus lazos bilaterales en el campo de la energía atómica, para lo cual firmaron acuerdos en relación con el mencionado centro.

El Gobierno boliviano tiene intención de convertir el país en uno de los mayores productores de energía de la región, según aseguró el presidente Evo Morales el 7 de septiembre, tras inaugurar el proyecto de gas Banda Azul.

ftn/mla/rba - HispanTv

Venezuela: ‘Exfiscal venezolano recibió $850.000 para no culpar a Leopoldo López de asesinato’


El presidente del Parlamento venezolano, Diosdado Cabello, divulgó el jueves un vídeo en el que se muestra al exfiscal Franklin Nieves culpando al dirigente opositor Leopoldo López de delitos menores.

Según Cabello, la grabación demuestra que Nieves recibió 850 mil dólares a cambio de no culpar a López por el homicidio de 43 personas en las violentas manifestaciones de febrero de 2014.

López se encuentra en prisión desde 18 de febrero de 2014, cuando se entregó a las autoridades días después de promover actos vandálicos —las llamadas guarimbas— con el fin de derrocar al presidente Nicolás Maduro.

Entre febrero y mayo del año pasado, Venezuela fue escenario de manifestaciones antigubernamentales que, según Maduro, maquinó la ultraderecha con el respaldo de Estados Unidos.

ftn/mla/rba - HispanTv

Israel pide sanciones contra piloto de Iberia por anunciar la llegada a ‘Palestina’


Una niña sostiene una bandera palestina en un territorio ocupado.

El régimen de Israel pedirá a la compañía aérea española Iberia que sancione al piloto que al aterrizar el miércoles en Tel Aviv anunció la llegada del vuelo a "Palestina".

"El embajador en Madrid escribirá una dura carta al presidente de Iberia en la que pedirá que se sancione al piloto", aseveró el jueves Emanuel Nahshon, portavoz del ministerio israelí de asuntos exteriores.

Los hechos ocurrieron presuntamente en el vuelo 3316 de Madrid a Tel Aviv, en el que el piloto, tras aterrizar, dio la bienvenida al pasaje a "Palestina" en lugar de a "Tel Aviv" o "Israel".

Testigos citados por el diario Yediot Aharonot dijeron que ese fue su mensaje en español, pero que cuando lo hizo en inglés sí dijo "Bienvenidos a Tel Aviv".


Iberia es la compañía de transporte aérea más representativa de España.


El caso, que fue difundido por las redes sociales y el jueves estuvo en todos los medios impresos, ha indignado a numerosos israelíes que iban en el vuelo y que entendían español, algunos de los cuales recriminaron al piloto al desembarcar, según la versión del periódico israelí.

Una portavoz, aparentemente local, de la aerolínea reconoció que el capitán del avión tuvo un "error" que fue "corregido" cuando hizo el anuncio en inglés.

Meses atrás, un piloto de la compañía aérea italiana Alitalia realizó el mismo anuncio por los altavoces del avión antes de aterrizar y fue retirado de la ruta aérea.

tmv/ncl/hnb - HispanTv

Se eleva a 68 cifra de palestinos muertos por ataques israelíes


Fuerzas israelíes matan a tiros a un joven palestino en Al-Jalil (Hebrón), 29 de octubre de 2015.

Se eleva a 68 la cifra de los palestinos muertos a manos de los israelíes en la ocupada Cisjordania y la Franja de Gaza en lo que va de mes (octubre), marcado por el inicio de la 3ª Intifada.

El Ministerio palestino de Salud, en su nuevo balance de víctimas, precisó el jueves que 51 mártires palestinos pertenecían a diferentes partes de Cisjordania y los otros 17 a la Franja de Gaza.

Añadió que 14 menores de edad y una mujer embarazada se encuentran entre las víctimas mortales de la brutalidad ejercida por las fuerzas del régimen de Tel Aviv contra los palestinos.

Las tensiones en los territorios ocupados palestinos aumentaron considerablemente tras nuevas incursiones y profanaciones a la Mezquita Al-Aqsa, en Al-Quds (Jerusalén), lo que provocó la ira del pueblo palestino, que se vio obligado a comenzar una nueva “Intifada” (levantamiento) para liberar Al-Quds.

ask/ncl/hnb - HispanTv

Maduro anuncia acciones legales contra EE.UU.


El presidente de Venezuela, Nicolás Maduro, anunció que iniciará acciones legales contra Washington en tribunales estadounidenses para que se derogue el decreto del mandatario norteamericano, Barack Obama, que declaró a la nación latinoamericana una amenaza.

"Venezuela va a presentar una demanda en los propios EE.UU. por ilegalidad internacional del decreto de Obama que amenaza a Venezuela desde el 9 de marzo de este año", dijo el mandatario venezolano citado citado por Venezolana de Televisión.

"No podemos tener ese decreto allí (…) y menos ahora que han reactivado las declaraciones diarias contra Venezuela", agregó Maduro.

En marzo pasado Obama emitió un decreto que declaró a Caracas una amenaza extraordinaria para la seguridad nacional de EE.UU. y se congelaron los bienes de varios funcionarios venezolanos acusados de supuestas violaciones a los derechos humanos.

Actualidad RT

Comandante naval chino: "Incidente menor podría desatar una guerra en el mar de la China Meridional"


Si EE.UU. continúa con sus "actos peligrosos y provocadores" en el mar de la China Meridional, existe el riesgo de que este comportamiento pueda conducir a "un incidente menor que desatará una guerra", advirtió el comandante de la Armada de China a su homólogo estadounidense.

El almirante Wu Shengli hizo estos comentarios al jefe de operaciones navales de la Armada de EE.UU., almirante John Richardson, durante una teleconferencia celebrada este jueves, según un comunicado difundido por las autoridades chinas, citado por Reuters.

En vísperas de la teleconferencia, el Ministerio de Defensa de China indicó que no excluye ninguna opción en sus esfuerzos para proteger su soberanía en el mar de la China Meridional. "El Ejército chino realiza la misión de protección de la soberanía y la seguridad de la nación", dijo Yang Yujun, portavoz del Ministerio en una conferencia de prensa este jueves.

Estas declaraciones llegan después de que a comienzos de esta semana EE.UU. enviara el destructor USS Lassen a la zona, el cual pasó a 22 kilómetros de los islotes artificiales levantados por China.

Actualidad RT

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Rússia: Vitória em Aleppo é crucial


Pepe Escobar, RT - Tradução: Vila Vudu

Mais uma vez, o que quer que o futuro reserve para a Síria nos dois fronts, político e militar, depende da nova Batalha de Aleppo. Com o influxo de refugiados internos, é possível que cerca de três milhões de pessoas estejam vivendo na cidade e arredores.

Trata-se, sempre, de Aleppo. Eis o que, na essência, está acontecendo no solo.

Damasco, com o Exército Árabe Sírio [ing. Syrian Arab Army (SAA)] controla a parte ocidental de Aleppo.

Algumas áreas no norte são controladas por curdos do Partido da União Democrática, (cur. Partiya Yekîtiya Demokrat , PYD) – muito mais engajados em combater contra ISIS/ISIL/Daesh do que contra Damasco. O PYD também é considerado aliado objetivo pelo governo de Obama e o Pentágono, para grande desgosto do 'sultão' Erdogan da Turquia.

A chave portanto é o leste de Aleppo. Está sob controle do chamado "Exército da Conquista", que reúne militantes da Frente al-Nusra, codinome "Al-Qaeda na Síria, e o grupo salafista Ahrar al-Sham. Outras partes no leste estão sob controle de "restos" (© Donald Rumsfeld) do Exército Sírio Livre [ing. Free Syrian Army (FSA), que se recusaram a colaborar com o Exército da Conquista.

Lá pelos prédios da Av. Beltway onde vivem os operadores do governo norte-americano, todos os supracitados são considerados "rebeldes moderados".

O desenvolvimento recente mais importante no campo de batalha em Aleppo é que o Exército Árabe Sírio – com a ajuda crucialmente importante dos russos – matou Abu Suleiman al-Masri, também conhecido como Mahmud Maghwari, líder da Frente al-Nusra, egípcio, nome que permanecia há eras na lista de matar do Cairo. (IMAGEM)

Adicionalmente, várias centenas de combatentes xiitas iraquianos, sob a supervisão do comandante superstar das Forças Quds Iranianas, Qasem Soleimani, foram transferidos de Latakia para Aleppo. E uma brigada blindada do Hezbollah, de cerca de três mil combatentes, também está para chegar.

O que está tomando forma é uma espécie de ofensiva pelo sul. Todas essas forças estarão convergindo não só para Aleppo, mas, num segundo estágio, terão também de limpar o terreno todo, até a fronteira turco-síria, que hoje é zona aérea de exclusão de facto, controlada pelos russos.

O alvo supremo é cortar as linhas de suprimento para todos e quaisquer atores salafistas ou jihadistas-salafistas – dos "rebeldes moderados" ao ISIS/ISIL/Daesh. Aí está a razão de Moscou tanto insistir em que a luta se trave contra todas as griffes do terror, sem distinção. Não interessa que ISIS/ISIL/Daesh não seja o principal ator presente dentro e nos arredores de Aleppo.

Para todos os objetivos práticos, toda a campanha síria está agora sob gestão operacional, tática e estratégica dos russos – claro que com o input estratégico chave, do Irã. (IMAGEM)

A coalizão Rússia-Síria-Irã-Iraque-Hezbollah na Síria – também conectada ao centro de inteligência "4+1" em Bagdá – tem grande chance de vencer a próxima Batalha de Aleppo, se preencher três condições:

1) Coordenação entre a cobertura aérea russa e a inteligência em solo para todas as operações (condição que se pode dar por preenchida); 2) Apoio popular (também se pode considerar condição atendida; a população sunita urbana em Aleppo, principalmente empresários, apoia Damasco); 3) Tropas em solo, com experiência de combate e em número não inferior a 15 mil (condição em vias de ser atendida, considerando a contribuição do Iraque e do Hezbollah).

No escuro

Como se pode prever, há outra coalizão que não está exatamente felicíssima com a configuração que os combates estão assumindo.

No momento, a principal usina geradora de energia de Aleppo, a 25km a leste da cidade, está sob controle de ISIS/ISIL/Daesh. Por alucinado que pareça – mas toda a tragédia síria é alucinada –, há acordo informal entre Damasco e o falso 'califato': os doidos ficam com 60% da eletricidade produzida, o governo fica com 40%. Afinal de contas, até os degoladores – sejam suaves-moderados ou degoladores do tipo convencional –, também precisam de energia.

Assim sendo, o que fez a Coalizão dos Oportunistas Finórios (COF) – que inclui Turquia, Arábia Saudita e Qatar, além dos EUA – para ajudar na luta contra ISIS/ISIL/Daesh? Ora, há mais ou menos uma semana, bombardearam a usina de Aleppo. É bombardear infraestrutura civil síria – crime clássico, à maneira dos crimes de choque & pavor de 2003, cujas vítimas são, principalmente o "povo sírio" que o 'Excepcionalistão' tanto ama.


O que acontecer no campo de batalha em Aleppo e nos arredores nas próximas poucas semanas será essencial para definir o front diplomático. Como se sabe, Bashar al-Assad captou a mensagem de Moscou. Está pronto a discutir emendas à Constituição e preparado para realizar eleições parlamentares e presidenciais. Mas antes disso os "4+1" precisam de algum grande fato no campo de batalha. (IMAGEM)

Até o secretário de Estado dos EUA John Kerry mudou a cantilena, depois de falar com o ministro russo de Relações Exteriores Sergey Lavrov: qualquer solução política implica envolvimento direto de Damasco e também da "oposição patriótica".

Mas os "patriotas" do Exército Sírio Livre ainda não entenderam. Lavrov explicitamente comprometeu Moscou com ajudá-los – mesmo depois de terem recebido armas via Turquia e Jordânia para usá-las contra Damasco – desde que combatam contra ISIS/ISIL/Daesh. Como seria de prever, os tais "patriotas/rebeldes moderados" desconsideraram o oferecimento de Lavrov.

Outro absurdo nada diplomático é a ausência do Irã na mesa de negociações – por causa da paranoia aguda da Casa de Saud. Generais e conselheiros iranianos são componentes chaves das operações em solo, na análise da inteligência colhida em solo e em toda a concepção estratégica do quadro geral na Síria.

Em vez disso, Washington e Riad insistem em aumentar o apoio àqueles "rebeldes moderados" –, depois que Kerry reuniu-se com o rei Salman em Riad. O Departamento de Estado, pela primeira vez dedicado a fazer suspense, não especificou o que significa "apoio". Nem é preciso dizer que significa mais treino dado pela CIA e mais mísseis TOW antitanques que de modo algum devem ser mirados diretamente contra ISIS/ISIL/Daesh.

O balé diplomático vai continuar, mais para o fim da semana. Bem na hora, com a crucial Batalha de Aleppo pegando fogo.

Nord Stream-2: Funeral das potências de passagem


Pavel Shipilin, Fort Russ - Tradução: Vila Vudu

O gasoduto "Nord stream-2" [Ramo Norte 2] finalmente fará da Alemanha o principal parceiro da Gazprom russa na Europa. Ucrânia, Polônia e os estados do Báltico, inspirados na luta pela independência frente ao gás russo, recusaram voluntariamente aquele papel.

Outro dia, Kiev recebeu a explicação de por que o novo gasoduto russo sob o Mar Báltico será implementado, apesar de Kiev opor-se tanto: "Quando dizemos que não seria projeto econômico, mas puramente projeto político que teria como alvo a Ucrânia, todos esquecemos que o projeto envolve empresas europeias. A Gazprom tem só 51%" – disse à European Truth uma fonte na Comissão Europeia envolvida nas negociações com a "Gazprom".

Em outras palavras, cada vez que se falar que Moscou está castigando Kiev com o porrete do gás, que todos lembrem que Londres (Shell), Amsterdã (Shell), Berlim (E. ON, BASF/Wintershall), Paris (ENGIE) e Viena (OMV) são cúmplices no mesmo espancamento.

Além do mais, a fonte do jornal online sugeriu que Kiev não seria vista com muita simpatia entre os principais países da UE. A causa disso seria a real falência da "Naftogaz". E parceiro falido, numa mesma rota de trânsito, é parceiro pouco confiável – motivo pelo qual a Rússia encontra tão significativo apoio na Europa.

"Nord stream-2" tem apoios na associação Eurogas, que reúne 44 empresas de gás da Europa. "Por estranho que pareça, entregas diretas de gás, da Rússia à Alemanha pelo fundo do Mar Báltico não contradizem a política comum de energia da União Europeia e, sim, a apoiam. O gás que chega à Europa contornando Ucrânia, Bielorrússia e outros países chega à Alemanha – país com alta competência, mercado livre. O gás pode ser fornecido a preços competitivos, inclusive à Europa Oriental" – disse recentemente o presidente da Eurogas, Gertjan Lankhorst.

Enquanto isso, a Europa Oriental, imersa na luta contra a "Gazprom", acabou presa num verdadeiro laço de servidão, aos produtores de gás natural liquefeito.


A Lituânia, que há um ano adquiriu um terminal móvel para gás natural liquefeito para [o porto de] Klaipeda, surpreendeu-se ao descobrir que o gás que vem da Noruega é 1,5 vezes mais caro que o russo. E até tentou ajustar suas obrigações contratuais. Ainda mais surpresos ficaram os poloneses, que também compraram terminal para gás natural liquefeito –, ao verificar que o preço do gás que vem do Qatar é duas vezes superior ao da odiada "Gazprom". Esses dois países têm contratos por 20 anos, que incluem o princípio "pegue ou pague".

Recentemente foi assinado um contrato para construção de um gasoduto entre Polônia e Lituânia. A Comissão Europeia anunciou que seria obra prioritária e alocou 300 milhões de euros. Presumivelmente, em poucos anos Polônia e Lituânia terão oportunidade de vender uma à outra os excedentes daquele gás caríssimo. O que estão tentando provar ao mundo é, para mim, impenetrável mistério.

Mas agora a "Gazprom" recebeu um bom argumento a seu favor, no litígio sobre preço injusto. Eles podem, sim, pagar! E até muito mais do que à Rússia.

Aplica-se, certamente, também à Ucrânia. Se Kiev está pronta a comprar gás reverso e pagar preço mais alto, evidentemente o argumento sobre o preço 'caro' cobrado pela "Gazprom" perde o sentido.

Simultaneamente, a implementação do gasoduto "Nord stream-2" começa a tomar formas tangíveis. O grupo italiano "Intesa Sanpaolo" já manifestou interesse em participar no financiamento do projeto e na questão seguinte dos Eurobônus da "Gazprom". O grupo já tem experiência com os seguros do monopólio russo. "O últimos 1 bilhão de euros emitidos desapareceram instantaneamente, num segundo, com a demanda correspondendo ao dobro da quantidade de Eurobônus", – disse a RIA Novosti o presidente do Conselho de Diretores do grupo "Banca Intesa", Antonio Falicco.

O presidente da Eurogas entende que é erro converter a questão do gás em tema político. Avaliando novos projetos para transportar gás russo para a Europa, é preciso pensar, sobretudo, que é significativo investimento na infraestrutura do Velho Mundo, não que se trata de reforçar o poder russo no mercado do "combustível azul". Gertjan Lankhorst não concorda com os que entendem que a "Gazprom" seria um monopólio dado que apenas alguns poucos países na Europa dependem desse gás.

É pouco provável que Ucrânia ou os países Bálticos ouçam a opinião de especialistas que sabem contar dinheiro e não auferem dividendos políticos a cada declaração altissonante. Afinal, a luta contra a "Gazprom" é tãããão emocionante (e tão distanciada da economia real).

Depois de 2019, depois de encerradas as solenidades do funeral das grandes potências de trânsito [de gás], todas terão de optar entre comprar gás na Alemanha ou na Rússia. Na Rússia, claro, o gás será mais caro. Mas não é impossível que a mesma Polônia prefira o gás russo, vindo do ocidente, não do oriente. Ser independente do bom senso não sai barato.

A Rússia não está preocupada. Nos dois casos, receberemos nosso dinheiro.

Ex-assessor de Reagan: EUA criaram Estado Islâmico para derrubar Assad


Diante das recentes intenções dos EUA em realizar ataques em solo contra os terroristas do Estado Islâmico, Sputnik entrevistou Paul Craig Roberts, economista e ex-assistente para a política econômica durante o governo do ex-presidente dos EUA Ronald Reagan. Eis o que ele tem a dizer sobre esse assunto.

"Acredito que tudo aquilo sobre o que Carter fala diz respeito a operações de resgate das forças especiais. Não creio que o mundo aceite mais uma invasão ilegal por parte dos EUA. O envio do exército dos EUA à Síria caracterizaria justamente uma invasão ilegal. Não creio que isso irá ocorrer. Mas aquilo que já aconteceu é o fato de Washington estar assustado com a perspectiva de seu governo fantoche no Iraque pedir ajudar à Rússia para combater o EI em território iraquiano, já que os norte-americanos não estão dando conta dessa tarefa" – disse Roberts.

Roberts acredita que caso o Iraque peça apoio militar à Rússia a exemplo da Síria, isso naturalmente excluirá os EUA da operação. Portanto, na sua opinião, Washingon está simplesmente tentando dizer: "Escutem, nós vamos cuidar mais seriamente no EI no Iraque".

"É muito difícil de fazer com que EUA se oponham ao EI, já que os EUA criaram o EI e tentam usá-lo contra Assad. Mas eu acredito que a política da Rússia na Síria obrigará os EUA a se opor ao seu próprio pessoal – o EI. E caso os EUA não se oponham ao EI no Iraque de forma mais decisiva, então haverá chance de o Iraque pedir à Rússia para fazê-lo" – concluiu o ex-assessor de Reagan.

No início desta semana, o chefe da Comissão do Parlamento iraquiano para a Segurança Nacional e Defesa, informou a agência de notícias Fars que Bagdá deu luz verde à Moscou para realizar ataques aéreos contra EI no Iraque, pelo fato de a operação russa na Síria ter provocado o deslocamento dos terroristas do grupo para o território iraquiano.

Ainda nesta quarta-feira (28) o governo do Iraque declarou que não precisa de operações terrestres das tropas norte-americanas eu seu território e que não solicitou a sua realização junto às autoridades dos EUA.

Sputniknews