sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Pela primeira vez na guerra da Síria, aviões russos e norte-americanos bombardeiam terroristas


O jornalista Beto Almeida comenta notícia publicada em Actualidad RT sobre a coordenação entre militares russos e norte-americanos para bombardear instalações de terroristas na Síria:

Estimados compas, não sou a melhor pessoa para explicar o que se passa, mas dada a surpresa e o desconcerto de muitos, arrisco uma primeira abordagem ao tema.

É preciso recordar que foi aprovado um Acordo na ONU, pelo qual os países participantes se comprometeram a tomar medidas contra o terrorismo. Assim, não é algo que caiu no vazio, de repente. Havia um acordo. No entanto, são conhecidas as dificuldades da ONU para conseguir que os países sigam suas deliberações. O que não quer dizer que não seja justo que Rússia e China tivessem perseguido a assinatura deste acordo, e esforçando-se diplomática e politicamente para que os EUA fossem signatários, ainda que tivessem certeza de seu descumprimento.

Isso levou há meses de denúncias da diplomacia russa na ONU à hipocrisia dos americanos, que firmaram os acordos e os descumpriam, orientados por Obomba e Hylllari, com sangue escorrendo do canto da boca. Enquanto não se cumpriam os acordos, degola e mais degolas. Até que Kerry foi gravado declarando "Nós apoiamos o Estado Islâmico na expectativa de que isto levasse à queda do Assad, porém, a Rússia entrou no jogo e mudou toda a equação" . Assim mesmo. A Rússia combinou diplomacia e intervenção militar, ambas legítimas, autorizadas pela Síria.

O que disse Trump em seu discurso de posse: "O estado islâmico será aniquilado," porque os acordos previam uma série de iniciativas, inclusive troca de informações logísticas, que permitissem o combate ...ao terrorismo. O corre que Obomba e Clinton jogavam duplamente, assinavam os acordos e ao invés de atuarem contra o EI, mandava-lhes munição e dinheiro, o que foi finalmente confessado por Kerry.

Não se trata de avaliar que Trump seja confiável. Ele não é. Trata-se de perceber que ele havia dito, na campanha, que buscaria soluções negociadas com a Rússia para a crise na Síria. E está fazendo isto. Não por ser confiável, mas porque ele é um setor que se desprende dentro do aparato capitalista porque ele que priorizar o mercado interno e a política de reativação da economia, da apenas da indústria bélica e do rentismo, que foi a política derrotada nas eleições. Disso se trata. É possível que inventem qualquer coisa contra ele para um impechment, uma pedalada qualquer. É possível, pois ele não é o setor do grande capital bélico, onde um míssil cruise vale 1 milhão de dólares, cada qual levando um computadorzinho da IBM no seu bojo. Estatísticas oficiais apontam que Obomba lançou 26 mil bombas sobre a Síria, houve 166 dias de bombardeio ininterrupto contra a Líbia, houve o gasto de 5 bilhões de dólares para derrubar o governo eleito da Ucrânia.

Só com o fornecimento de coordenadas - o que é apenas o cumprimento do Acordo da ONU - a aviação russa dizimou estruturas de abastecimento dos terroristas em Alepo, que voltou às aulas, já teve seus sistema ferroviário reativado, e isso tudo significa muitas vidas preservadas por uma simples decisão de cumprir um acordo que Obomba e Clinton, criminosamente, recusavam-se a cumprir.


Cuba patrocinou o Acordo de Paz entre Santos e as Farc. Lembro que quando ele foi eleito, alguns amigos da Telesur, colombianos diziam "Tem as mãos sujas de sangue, não vai mudar nada". Argumentei muito, mesmo sem um domínio muito aprofundado da Colômbia, que não era a mesma coisa. A Paz aí está. Santos representa o setor da burguesia mais industrializada de Medeliin, que precisa de produção e de mercado, e que queria normalizar sua situação com a Venezuela, porque o poder aquisitivo da Venezuela cresceu muito com Chávez. Outra era a política de Uribe, vinculado à oligarquia, portanto muito mais prisioneiro de imposições dos EUA, que não querem a expansão industrial colombiana, sendo ele muito mais hostil e manipulável contra Chávez, quase chegando à ruptura de relações e quase a uma declaração bilateral de guerra, o que seria muito ruim .......para a Venezuela, que precisa de tempo para consolidar seus projetos produtivos e sociais. Uma guerra, seria o pretexto adequado para uma intervenção direta dos EUA, que possuem muitas bases na Colômbia. Santos , nem por isso, é confiável. Ele foi ministro da defesa de Uribe, mas, muito além de seu caráter ser assim ou assado, ele representa, como Trump agora, uma contradição no interior da classe dominante , que Cuba farejou e percebeu, investiu, recebeu o apoio de Chávez e de Maduro, e , com isto, já se podem contabilizar quantas vidas se preservaram com o acordo de paz, ainda que precário e bem induficiente.

Em certas situações, quando não temos um movimento revolucionário que nos represente e que tenha capacidade de ter a iniciativa e de dar uma saída à esquerda, é não apenas possível, é obrigatório que examinemos a complexidade das contradições para ter o melhor proveito possível. Neste caso, o terrorismo será muito debilitado na Síria, gradativamente, e também no Iraque, pois em Mossul as escolas foram reabertas ontem, depois de quatro anos, sendo já produto da intervenção russa, iraniana, síria, iraquiana e do Hezbolah, derrotando o EI, encurralando Israel, que foi derrotado pelo Hezbollah no Líbano, movimento que tem uma rádio e uma televisão por satélite, a qual, mesmo sob 35 dias de bombardeio sionista sobre Beirute, não saiu do ar um único minuto sequer, pois tem vários transmissores subterrâneos!

É apenas uma abordagem. Nem sempre o cenário é claro, por vezes tem sinais trocados, personagens inconfiáveis, mas isto não nos dá o direito de apenas virar as costas, pois é possível fazer ações concretas que salvam vidas. Não temos o direito de recursar esta tarefas, apenas porque são muito complexas e aparentemente inalcançáveis. Temos que fazer no mínimo o aparentemente impossível. Vale reconhecer o heroísmo da população de Alepo, suas crianças, o heroísmo do povo russo, que para Palmira mandou a Orquestra Sinfônica de Petrogrado e ,também mandou o Coral do Exército Vermelho, que pereceu no mar (o que foi criminosamente festejado pela mídia ucraniana, como se faz à porta do hospital em que está internada D Marisa), e depois as crianças russas coletaram nas escolas toneladas de brinquedos para as crianças de Alepo. Ali houve uma pequena Stalingrado, motivo de lindo poema de Drummond, na época.

O Coral que morreu cantaria em defesa da humanidade e contra o terrorismo.

Beto Almeida