sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Aziz Filho: Marisa estava sempre de prontidão para defender Lula


Fernando Brito - Tijolaço

Citado no Blog do Marcelo Auler, fui atrás do depoimento do meu amigo Aziz Filho, repórter dos nossos velhos tempos, sobre Marisa Letícia, que divido com os leitores.

Acho que Lula era apaixonado por dona Marisa.

Eu sempre a vi como uma mulher discreta e brava. Só me aproximei dela de verdade uma vez, ao fim de uma Caravana da Cidadania em uma praia de Natal. Era o ano de 1992, eu era repórter do Jornal do Brasil e viajei com o ídolo [o craque da fotografia] Evandro Teixeira.

Lula fazia até dez comícios por dia. Dirigi mais de 3 mil quilômetros pelos cafundós de Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Tínhamos que escrever, arrumar telefone pra passar texto e fotos, acelerar igual ao Senna por estradas esburacadas para alcançar a comitiva, e tombávamos de cansaço de madrugada, muitas vezes sem comer.

Uma noite uma família de pescadores nos deu farinha e água (e isso não foi nada engraçado). No último dia, Lula pediu que o deixássemos aproveitar a praia com dona Marisa. É claro que o Evandro, como quem não quer nada, foi se aproximando com a câmera, apontando “discretamente” uma teleobjetiva gigante, e Lula veio a nós caminhando pela areia. Disse que “a galega” não gostava de fotos, precisava de sossego, e que ele falaria comigo alguns minutos para que o deixássemos em paz.

Sem direito a publicar nada, só bate-papo. Passamos um bom tempo falando sobre Brizola. Lula reclamava do velho, e eu dizia que o Brizola era implicante mas que, no fundo, via nele, Lula, o condutor do tal “fio da história” de Getúlio e Jango. “Mas ele é muito difícil”, Lula repetia. E era mesmo.

[Nota do Tijolaço: Lula talvez não conheça o dito gaúcho: lenha boa é a que sai faísca]

Bom, o que interessa é que, aos poucos, Evandro e eu fomos chegando até a mesa com guarda-sol onde estava dona Mariza. Ela deixou que nos sentássemos com eles, mas sem fotografá-los em trajes de banho. Lula já tinha uma barriguinha de respeito. Demos risadas de coisas simples, dilemas de casamentos, filhos, as “sirigaitas” que davam no pé do Lula no sindicato.

Eu fiquei zonzo com poucas caipirinhas, ela era mais dura na queda. Estava sempre de prontidão para defender o marido da imprensa, dos adversários, das sirigaitas.

Depois eu soube que os coleguinhas se divertiam quando ela ligava à noite para o Palácio do Planalto mandando o presidente encerrar o expediente e ir pra casa.

É a lembrança que carrego de dona Marisa Letícia: singela, bonita, sincera, leal, uma alma bem brasileira. O Evandro conseguiu tirar algumas fotos roubadas, dona Marisa até riu para a câmera, e até hoje ele não me deu nenhuma cópia. Já pensei em matá-lo por isso.

Nestas horas, o melhor é ignorar a turma do ódio e deixar que a peneira do tempo deixe ficar as coisas assim, de gente boa e normal, como todos queremos ser.

PS. A foto do casal que está lá no alto não é a do Evandro, que está intimado a achar onde está. É do Paulo Giandalia, via Memorial da Democracia.